quinta-feira, 25 de agosto de 2011

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QUINTA-FEIRA, 25 DE AGOSTO DE 2011

A incompreensão


Um dos sentimentos que um borderline traz consigo é o estado permanente de incompreensão. Uma palavra, um gesto por menores que sejam podem se transformar em um cataclismo, aliás, nós já somos o próprio cataclismo que as vezes encontra-se adormecido, outras vezes explode devastando tudo que vê pela frente.
A maioria das pessoas realmente não compreende (e em alguns casos não aceita) tantos sentimentos contraditórios, a falta de sentido, ausência de algo que não sabemos realmente o que é, e toda essa intolerância e até mesmo descaso só reforçam nossa ambiguidade.
Confesso que já não faço questão de me explicar porque simplesmente me sinto exausta. Já tenho que me entender todos os dias, diariamente travo uma batalha comigo mesma, e estou tão centrada nisto, que não sobra tempo nem paciência para pessoas que nunca vão compreender e ficarão eternamente presas no preconceito e intolerância.
Acredito que esse seja um caminho: se importar com o que é realmente essencial. E o que seria essencial? Para mim seria encontrar meu controle, e isso não inclui ser compreendida e aceita pelos outros. A máxima que diz: "quem gostar de mim verdadeiramente me aceitará como sou", exemplifica muito bem o que acabo de escrever.
 Portanto, as critícias só serão válidas se vierem de alguém que conheça pelo menos a metade do que eu e tantos outros borderlines temos de enfrentar. Será que eu estaria sendo radical? Talvez. É que já me levaram à exaustão, e o radicalismo as vezes é necessário.

2 comentários:


Veronika disse...
Olha, eu NÃO sei se haverá alguém que gostará de mim de verdade algum dia. Pelo menos, alguém além da minha mãe do meu terapeuta, porque eu não tenho amigos, nunca tive, e já foi um baita progresso eu me mudar de Estado e conseguir ter "conhecidos" que, muito esporadicamente, saem comigo, quando eu aparento estar bem (e estou de fato, porque sou PÉSSIMA fingidora) e que me chamam pra um papo furado. Já foi um progresso não ficar 100% do tempo só, apenas 85%. Pra arranjar namorados, sou péssima. Tive um, e olhe lá, nem eu sei como. Pra arranjar uma transa, nem tão péssima, mas geralmente eu quero afeto, e eles querem me comer e ponto. daí já viu: saio estraçalhada, e eles saem cantando de comedores. Optei pelo celibato, por via das dúvidas. Sempre vivi pra agradar todo mundo. O que posso te dizer é que nessa altura da minha vida, liguei o foda-se. FODA-SE TUDO, FODAM-SE TODOS. Não sei se alguém vai me entender, se vão gostar de mim assim, ou assado. Meu objetivo de vida não é, ao contrário do teu, nem mesmo encontrar meu equilíbrio. É, simplesmente, GOSTAR DE MIM, ME AMAR, ME RESPEITAR, PARAR DE ME FAZER MAL, PARAR DE ME TRATAR COMO LIXO. Porque, durante toda a vida, eu me fiz mal. Eu me enxerguei conforme os outros me viam. Uma palavra ruim deles, e eu me via ruim. Se me dissessem que eu era burra, então eu era. Se me dissessem que eu era preguiçosa, então eu era (e isso no auge da depressão, dando TUDO de mim, de preguiça não tinha nada). Se me chamassem de gorda, eu era. De cabelo ruim, eu tinha. Se fizessem bullying, eu acreditava. Eu via o pior de mim em tudo, e isso é dor demais pra uma pessoa carregar. Eu até estou mais equilibrada, mas depois que acabou meu relacionamento, que me trazia muito medo da perda, porque sempre me achei indigna DELE, sempre achei que ele estava comigo por pena, por não achar nada melhor do que eu! Mas o maior problema, desde sempre, foi me colocar na posição de lixo, de escória da humanidade. Ao contrário de ti, até tive anorexia aos 15 anos, mas me recuperei, pois minha mãe detectou cedo e me obrigou a comer, sob pretexto de me expulsar de casa (e eu sempre fui boa filha)... minha família é uma família de obesos, então eu tb estou com sobrepeso, 74 kg em 1,63 metros. Mais um motivo pra eu me sentir um lixo. Então o meu foco é só um: me tratar bem. Me fazer bem. São 28 anos de vida, a maior parte deles me escravizando, me menosprezando, algumas vezes esbofeteando meu rosto, me depreciando perante os outros em gestos, em palavras, dando munição para eles me detonarem. Só o que eu quero é cortar esse fio que deflagra essa bomba de autodepreciação, de ódio, de maus tratos, de permitir que os outros me invadam, porque parece que a maioria das pessoas só sabe ser mais se fizer dos outros menos, mais fracos, menores. A humanidade é suja, só conseguem se garantir depreciando o outro. E eu fui a atriz perfeita para esse papel, vulnerável, tímida, doce, sujeita a tudo por amigos. Acho que cada um deve ter seu alvo no tratamento, perceber e identificar qual o aspecto mais marcante do transtorno borderline que predomina em si, e esse é o meu depoimento. Desculpa me estender tanto, era pra dar uns toques pra você, mas teu post foi interessante... eu nunca tinha pensado na doença sob esse ângulo, e acabei me empolgando total! Aliás, tenho sentido falta dos teus feedbacks... Tu andas calada demais, gostaria de que conversasses, sei lá. De repente tu não curtes o que eu escrevo, ou teu jeito é mais calado mesmo, mas acho que sempre é um crescimento pessoas com o mesmo transtorno, que é algo tão difícil de se lidar, e ao mesmo tempo algo de manifestação tão heterogênea, de pessoa para pessoa, trocarem ideias e se apoiarem, na medida do possível. Acho que ninguém precisa levar o barco adiante sozinho, nem guardar tudo isso para si! Boa sorte na conquista do equilíbrio! É muito difícil de se atingir! * UM PASSO DE CADA VEZ. E UMA QUEDA NÃO ENCERRA A CAMINHADA! *
Lidiana disse...
Veronika primeiramente quero te parabenizar pelo depoimento. Estou muito emocionada porque eu assim como você, sempre acreditei em tudo que me diziam, e nós (que temos esse transtorno), não conseguimos abstrair as críticas negativas, a gente acredita que é ruim e ponto final! E seu relato me fez lembrar de muitas coisas na minha vida, e te confesso que ultimamente o passado tem me visitado constantemente. Parece que entramos nesse processo de autoconhecimento, mas é algo involuntário, e quanto mais me conheço, mais quero fugir de mim. Você sente essa incompreensão tanto quanto eu e é realmente muito injusto que carreguemos esse fardo sozinhos. Simplesmente não dá. Realmente tenho andado calada. Não sei se acontece com outros borderlines, mas essa luta cansa muito e as vezes queremos desistir, e acabei entrando em um estado depressivo porque as vezes me pergunto: "por que estou me desgastando tanto?", e aí tudo fica sem sentido. Parece que tenho que agradecer à Deus por cada hora que sobrevivo dentro da "normalidade." Veronika seu relato merece ser lido e compartilhado. Agradeço imensamente pelas palavras, elas me fizeram chorar porque para mim ainda é muito difícil, entende? Um beijo grande!

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